SETEMBRO AMARELO E A MATERNIDADE
- Liz Andrade
- 16 de set. de 2020
- 4 min de leitura
A saúde mental materna é muito importante porque, além de ser um risco ao suicídio, causa impacto no vínculo da mãe com o bebê, podendo afetar a amamentação e até a saúde física do bebê.

O mês de setembro é marcado pela campanha do Setembro Amarelo, uma iniciativa nacional de prevenção ao suicídio. Esse assunto é muito importante também na maternidade, por que o período da gestação e pós-parto são os estágios da vida da mulher em que ela está mais propensa a desenvolver transtornos mentais.
Para que isso não ocorra, é preciso prevenir o adoecimento mental ainda na gravidez, mas a visão romântica da maternidade perfeita como uma realização pessoal e felicidade incondicional é um grande impecilho para que as mães se sintam confortáveis em falar sobre os sentimentos negativos, tornando muitas vezes um desafio identificar o sofrimento materno.
Logo que o bebê nasce, é comum que a mulher apresente uma espécie de “depressão” que, apesar da semelhança com a depressão em si, trata-se de um período chamado Baby Blues ou Blues Puerperal. O baby blues é diferente da depressão pós-parto, pois sua origem é a queda hormonal que ocorre logo após o nascimento do bebê e ele tende a se resolver sozinho à medida que os hormônios voltam à normalidade, não precisando de tratamento. O baby blues afeta cerca de 80% das puérperas e coincide com o choque pela demanda do bebê. Nesse momento, a nova mãe precisa de muito apoio e auxílio das pessoas ao seu redor.
No entanto, algumas mulheres acabam desenvolvendo quadros mais intensos que se agravam, tais como a depressão pós-parto, a psicose puerperal e o transtorno de estresse pós traumático.
A depressão pós-parto aparece decorrente de fatores como doenças psiquiátricas anteriores à gravidez, falta de suporte familiar, dificuldades físicas ou emocionais na gestação e/ou doença no bebê. A grande diferença entre a depressão pós-parto e o blues puerperal é o tempo de duração. O baby blues costuma passar por volta de 15 dias aproximadamente, enquanto a depressão pode surgir até o quarto mês após o parto e se estende por meses ou anos, não se resolvendo naturalmente. É comum as pessoas acharem que o baby blues é um início de depressão ou algo que deixa a mãe mais propensa a ter o quadro depressivo, mas isso é um mito.
O baby blues é normal e não é motivo de preocupação. Por outro lado, a depressão pós-parto é grave e necessita de tratamento, pois pode levar ao suicídio.
Além da depressão pós-parto, a psicose puerperal também é um transtorno grave que se apresenta como um quadro delirante, alucinatório agudo, que surge entre o segundo dia e até 3 meses depois do parto. É o mais grave quadro psiquiátrico perinatal. Requer diagnóstico médico e tratamento especializado. Ela ocorre em 1 a 2 mulheres em cada 1000.
A mãe ainda está exposta a outro transtorno psiquiátrico que é o transtorno de estresse pós traumático (TEPT), que pode ocorrer na gestação, no parto ou no pós-parto em decorrência de situações de perdas perinatais, morbidades maternas graves, experiências de partos complicados, violência obstétrica, procedimentos invasivos no parto. Sua principal manifestação são sintomas de ansiedade elevada que levam a mãe a desenvolver comportamentos compulsivos obsessivos em relação ao bebê, caracterizando-se como um excesso de cuidados maternos, tais como conferir repetidas vezes se o bebê está respirando, se está no berço ou não deixar ninguém se aproximar do bebê.
Alguns outros fatores são considerados de risco ao suicídio materno como: existência de doença psiquiátrica anterior à maternidade, ideação suicidas prévias, falta de suporte familar, ausência de companheiro(a), dificuldades financeiras, gravidez não planejada e/ou não desejada, eventos estressantes nesse período como a morte de entes queridos, divórcio, perda de emprego, dificuldades financeiras, história de violação de direitos (abusos, violência doméstica) e adicção.
É de suma importância falar sobre isso, mas também precisamos saber identificar os sinais de risco ao suicídio, perceber a ocorrência dos transtornos, seja na gravidez ou no pós parto. Assim, é preciso estar alerta aos sinais de esgotamento mental materno como frases do tipo “eu não aguento mais”, “eu quero sumir”, “eu não consigo mais” e se atentar para os fatores citados anteriormente.
Uma forma de ajudar é promover um espaço de fala sem julgamentos, oferecer ajuda em alguma necessidade (tarefas diárias, cuidados com o bebê) e recorrer à ajuda profissional. Além disso, o CVV – Centro de Valorização da Vida, oferece suporte para pessoas pelo telefone 141 ou pelo site. O atendimento é gratuito, anônimo e sigiloso.
A saúde mental materna é muito importante porque, além de ser um risco ao suicídio, causa impacto no vínculo da mãe com o bebê, podendo afetar a amamentação e até a saúde física do bebê. A longo prazo, as consequências são ainda maiores.
Mães, valorizem sua saúde mental e seu bem estar.

Liz Andrade é mãe de dois meninos (gêmeos univitelinos) e psicóloga especialista em Políticas Sociais com formação em Escola da Família. Apaixonada pelos filhos, desenvolvimento infantil, pessoas, relacionamentos, disciplina positiva, inteligência emocional, autoconhecimento e resiliência.
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