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RELATO DE PARTO E VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA

  • Foto do escritor: Lu Andrade
    Lu Andrade
  • 6 de set. de 2020
  • 5 min de leitura

No início de agosto, eu me juntei a outras duas mães maravilhosas - Carol do @psicomaternando e a Liliana do @mamaesemcao - em uma ação de alerta para a violência obstétrica. Nós fizemos o relato da violência que sofremos e convidamos outras mães a fazer o mesmo com o objetivo de conscientizar outras mulheres sobre os tipos de violência obstétrica e evitar que elas passem pelo mesmo.


Esse é o relato de uma mãe que sofreu violência obstétrica e prefereiu não se identificar.


"Na minha primeira gestação eu e meu esposo decidimos pelo parto humanizado domiciliar, fui pesquisar por profissionais na minha cidade e descobri que havia uma obstetra e parteira, que só fazia parto humanizado, e que já havia feito inclusive o parto de algumas pessoas conhecidas. O pré natal foi muito tranquilo, tudo foi conduzindo muito bem por ela e por sua auxiliar, uma enfermeira obstetra. Eu comecei a sentir algumas contrações por volta das 9 da noite do dia 28, uma dor leve, que apesar de faltar poucos dias para completar 40 semanas, não achei que fossem contrações, mas a dor não me deixou dormir bem, e pela manhã saiu o tampão, foi quando ligamos para parteira. Ela, a parteira, e a enfermeira chegaram por volta das 11 da manhã, me examinaram e disseram que eu já estava com 6 de dilatação, nesse horário eu já estava sentindo uma dor mais intensa... com o passar do tempo as dores aumentaram, e em determinado momento, já era noite, a parteira me disse que eu estava "sentindo a dor de forma errada", que eu deveria "urrar" de tal forma, que o grito deveria sair da minha garganta de forma tal, e que eu deveria fazer força quando sentisse a contração… (apesar da contração eu não sentia nenhuma vontade ainda de fazer força, mas fiz do jeito que ela pediu, mesmo não achando sentindo… porém da forma que ela queria, não era algo confortável pra mim, comecei a sentir a garganta arranhar, tentando gemer de acordo, enfim, deixei a fazer como elas pediram… depois de um tempo elas vieram até mim e disseram que se "afastariam" um pouco, e em outras palavras, era porque eu estava me "fazendo de coitada" e que isso não estava colaborando com o processo...e foram dormir no quarto ao lado… em nenhum momento eu reclamei de nada, não pedi nada, não disse nada, a conclusão delas foi tirada pelo jeito que eu estava gemendo.
A partir de então eu comecei a prender meu gemido, quando sentia a contração eu apertava um objeto na minha mão e gemia o mais baixo possível pra elas não acharem que eu estava me "fazendo de vítima", a essa altura já era madrugada e elas, no quarto ao lado, e meu marido, junto de mim, já estavam dormindo, e eu só queria que tudo acabasse logo… por volta das 4 da manhã do dia 30, depois de verificarem que a dilatação não estava evoluindo já a algum tempo, e eu estava cansada e com muita dor, acharam, assim como eu, que seria melhor ir para o hospital. Chegando ao hospital começou outra novela..  logo que chegamos a minha parteira fez questão de me acompanhar para dizer o que fosse preciso sobre o trabalho de parto até aquele momento, o que foi bem útil,... quando perguntaram quando começaram as contratações e souberam que teríamos um parto domiciliar, começaram a me olhar torto, mesmo sabendo que a dilatação não estava evoluindo há muito tempo disseram que esperariam para um parto normal... romperam a minha bolsa, e as contrações que já estavam bem doloridas aumentaram muito, tipo 10x mais, eu estava numa sala pequena, com um residente que não tirava os olhos do celular, e eu gritava muito de dor a cada contração, nunca senti tanta dor, a sensação era que alguém estava cravando um machado nas minhas costas, quando perguntei ao médico sobre anestesia ele disse que não podia, porque eu dei entrada pelo SUS… no meu desespero de dor, eu pedi então que me transferissem para a ala particular, e o médico, sem tirar os olhos do celular, disse que não era possível… veio então uma enfermeira com "soro", e colocou na minha veia, disse que era só soro, mas a dor era tão grande que eu não conseguia ficar na maca, nem parada com o braço em lugar algum, arranquei tudo na primeira contratação… eu estava toda suja de sangue, com a roupa suja, o chão da sala todo sujo...foi aí que a minha parteira perguntou se eu não poderia tomar uma ducha pra tentar aliviar a dor e me limpar, e o médico disse que sim, mas que eu teria que ir pelo corredor porque o chuveiro era em outro local... quando eu estava quase saindo da sala, chegou um anjo e perguntou, "quem está gritando?"
Era o anestesista que veio porque ouviu meus gritos de onde estava...no momento que ele chegou era o intervalo entre as contrações, ele me olhou e já foi abrindo a maleta e preparando a analgesia, uma enfermeira veio logo em seguida fez algumas perguntas e ele disse, "quem tem dor tem pressa", aplicou o analgésico e disse que não resolveria mas aliviaria a dor, isso foi umas 2 horas depois que eu cheguei ao hospital. A dor passou por completo, o médico do celular veio pra junto de mim, colocou a mão na minha barriga e disse que quando ele sentisse a contração que eu fizesse força, mas eu estava tão cansada e tão aliviada da dor, que comecei a cochilar, não deu 10 minutos após a analgesia fazer efeito, decidiram fazer uma cesária. Não deixaram ninguém me acompanhar no parto, na época apesar de já ser permitido por lei, na ala pública do hospital não era permitido. O anestesista, que me aliviou o sofrimento, foi o que participou do parto, e que fez a gentileza de me perguntar se eu estava com meu celular por perto, como disse que não, quando nasceu a Clara e colocaram próximo ao meu rosto pra eu ver, ele tirou fotos nossas com o celular dele, e depois quando eu já estava na enfermaria, ele me procurou para me enviar as fotos, as únicas do nascimento da minha filha, um traço da "humanidade" e gentileza que eu tanto desejava pro meu parto."

No Brasil, cerca de 1 em cada 4 mães sofreu algum tipo de violência obstétrica. A violência obstétrica pode ser definida como a violência contra a mulher durante a gravidez, parto e pós parto. Ela pode se manifestar por meio de: negação de tratamento durante o parto; humilhações verbais; desconsideração das necessidades e dores da mulher; práticas invasivas; violência física; uso desnecessário de medicamentos; intervenções médicas forçadas e coagidas; detenção por falta de pagamento; desumanização ou tratamento rude.

Se você também sofreu violência obstétrica e quer partilhar seu relato, converse com uma de nós nas redes sociais (@eumimoporluandrade @mamaesemcao @pasicomaternando). Se você não se sentir à vontade de gravar um vídeo ou mesmo se identificar, mande sua história para nós por direct, que publicaremos de forma anônima. Nosso objetivo aqui é apoiarmos umas às outras nessa dor, e evitar que mais mulheres passem pelo sofrimento que passamos.


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